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Caderno de Especificações

Características “Filigrana de Portugal”

Características do produto “Filigrana de Portugal”

A filigrana em Portugal, e como já atrás foi referido, esteve ancestral e primacialmente ligada à zona norte do país, e, pelo menos a partir do século XVIII/XIX, a dois núcleos de produção específicos, a saber Gondomar e Póvoa de Lanhoso. São, assim, as características destes núcleos que se afirmaram ao longo dos tempos (muito ligados a uma ourivesaria dita popular) e se difundiram através de outras regiões para o resto do país, as que são unanimemente assumidas e reconhecidas como a tipologia tradicional da filigrana portuguesa.

Sendo a técnica artesanal da filigrana a mesma, estes dois núcleos coexistiram no passado com características aproximadas e praticamente apenas se distinguem tradicionalmente pela tipologia de peças produzidas. E embora na Póvoa de Lanhoso de trabalhasse quase exclusivamente o ouro, numa filigrana muito trabalhada de malha mais aberta, relativamente larga, de fio ligeiramente mais grosso e em Gondomar a prata sempre tenha tido primazia (num rendilhado mais fino e leve, de malha mais apertada), atualmente as diferenças foram-se esbatendo no tempo, resultando num trabalho em tudo idêntico. As peças, essas, continuam a ser mais ligadas à tradição de um centro ou de outro, mas são produzidas indistintamente (havendo, inclusive, colaborações entre oficinas, ourives e enchedeiras de ambos os centros produtores), pelo que hoje não podemos distinguir a produção, senão pelo trabalho de cada um dos ourives-filigraneiros e das suas características pessoais específicas e o cunho próprio que imprimem à sua produção.

Hoje em dia trabalha-se mais a prata (com algumas exceções), em peças que permanecem brancas com a cor do metal utilizado ou que levam banhos para adquirirem diferentes colorações e brilhos (banho de ouro e banho de ródio, por exemplo). Alguns filigraneiros enriquecem e diversificam as suas peças com pedras coloridas, aplicações de esmaltes e pérolas.

O fio utilizado pelos filigraneiros varia de espessura. Para efeitos de certificação, a espessura máxima dos fios (seja de ouro ou de prata) deverá ser 0,22mm. Os fios utilizados na Filigrana de Portugal são torcidos dois a dois e posteriormente espalmados.

Peças de dimensões consideráveis (acima de 500 gramas) e que sejam 100% filigrana poderão utilizar fio de maior espessura (ajustado ao tamanho da peça e do espaço a encher). No entanto, a certificação destas peças estará dependente de avaliação individual e específica.

No entanto, a filigrana deve quase todo o seu valor ao trabalho da enchedeira, artesã que decora a peça, preenchendo a armação ou esqueleto (manual ou feito com recurso a tecnologia ou meios mecânicos e estética e tecnicamente da responsabilidade do ourives) com toda a liberdade e mestria (ainda que dentro da gramática decorativa própria da filigrana portuguesa). Este trabalho que tradicionalmente e em Gondomar era exclusivamente feito por mulheres no domicílio, é atualmente, e cada vez mais, assegurado pelas oficinas, estando a esbater-se a questão do género nesta tarefa. Na Póvoa de Lanhoso este trabalho sempre foi, e continua a ser, um dos passos do processo de produção realizado na oficina, preferencialmente por mulheres (mas também, e mais esporadicamente, por homens).

No que respeita à gramática decorativa presente na Filigrana de Portugal e como já atrás foi abordado, ela assenta em formas e motivos tradicionais combinados livremente, ainda que atualmente, e em muitos casos, numa utilização de estética contemporânea desprendida de cânones tradicionalistas. No entanto, o essencial da tipologia da Filigrana de Portugal tem que estar presente, já que é essa particularidade que distingue e diferencia a filigrana feita em Portugal da que é realizada no resto do mundo. Estas características são: o fio que enche as peças é torcido, achatado e adelgaçado de forma a enrolar-se em SS, espirais e em rodilhões (Póvoa de Lanhoso) ou crespos (Gondomar), escamas, caracóis, caramujos e cornucópias. Os motivos decorativos são sempre sinuosos, sem ângulos retos, numa constante de movimentos curvilíneos.

Como já atrás foi referido, para que uma peça possa ser certificada como “Filigrana de Portugal” terá que se enquadrar numa de 3 categorias:

- 100% Filigrana – para peças integralmente desenvolvidas manualmente, desde a sua base (puxar o fio, armação) até aos acabamentos. Utiliza-se maioritariamente (mas não exclusivamente) nas peças de tipologia mais tradicional.

- Filigrana – para peças com mais de 50% de incorporação desta técnica artesanal na sua área visível e cujos materiais de suporte sejam também metais preciosos (ouro e/ou prata). Utiliza-se sobretudo para peças de adorno pessoal (mas não exclusivamente).

- Aplicação em Filigrana – para peças que incorporem apontamentos totalmente feitos recorrendo à técnica artesanal da filigrana (100%), mas cujos materiais de suporte e/ou outras técnicas utilizadas incorporem também outros materiais que não os tradicionalmente utilizados no trabalho de filigrana (ouro ou prata maciços ou outros metais, materiais têxteis, cortiça, madeira, etc).

Esta informação será presente na peça através de etiqueta de certificação, sendo que o punção atestará na própria peça a marca “Filigrana de Portugal” e o contraste a qualidade e veracidade da liga metálica.

Fonte: Ramos, Graça, Caderno de Especificações para a certificação, 2017