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Caderno de Especificações

Condições de inovação

Condições de inovação do produto e no modo de produção que, abrindo essa possibilidade, garantam a preservação da identidade do produto

A arte da filigrana sempre inovou, mais na estética do que nos processos e técnicas de produção que sempre foram, e deverão continuar a ser, predominantemente manuais. Hoje o fio já é, em algumas oficinas, puxado e torcido recorrendo a meios mecânicos (ou encomendado fora das oficinas e adquirido pronto a trabalhar), assim como os equipamentos envolvidos no processo de produção podem (e devem) ser modernizados, acompanhando o ritmo dos tempos atuais e recorrendo a tecnologias que ajudam na qualificação da produção e na introdução de aspetos diferenciadores que constituem uma mais-valia competitiva nos mercados.
No entanto, o que distingue e singulariza a arte da filigrana tornando-a única e diferenciada da produção de ourivesaria massificada, deverá manter-se inalterável: o trabalho manual do fio enrolado em SS, espirais e rodilhões/crespos que preenche os espaços, mais ou menos abertos, da armação/esqueleto da peça e a forma como esse rendilhado é efetuado recorrendo à gramática decorativa utilizada na Filigrana Portuguesa (e que atrás foi descrito).
A nível estético, a capacidade artística, técnica e inovadora dos novos artesãos, alguns com formação em design, joalharia e outras áreas artísticas, as quais complementam com formação direcionada para a técnica artesanal da filigrana (como a ministrada no CINDOR – Centro de Formação Profissional de Ourivesaria), criaram uma nova classe de ourives/filigraneiros/joalheiros com conhecimentos técnicos e de desenho, capazes de inovar sem descaracterizar a filigrana portuguesa. Hoje, já não é só a passagem do ofício de geração em geração que vemos acontecer; assistimos, sim, a um upgrade dos novos ourives (venham eles, ou não, de família do mesmo ofício), fruto da necessidade sentida de qualificar e valorizar (inovando) esta arte tradicional.
Assim, a inovação (entendida como evolução da arte) que hoje se verifica (e que é perfeitamente admissível a nível de certificação) consiste, sobretudo, na conjugação das características técnicas da filigrana portuguesa com formas mais arrojadas e contemporâneas, numa linguagem mais atual e adaptada ao gosto de um público cada vez mais exigente e diferenciado. Uma peça de filigrana de Portugal pode ter uma forma completamente nova, até abstrata, desde que seja assegurada a incorporação da técnica da filigrana e que se enquadre numa das categorias aceites neste processo de certificação. Dessa forma a peça não é descaracterizada e é vinculada à identidade desta arte e ao seu centro produtor (Portugal), pelo que a peça poderá ser certificada.

Fonte: Ramos, Graça, Caderno de Especificações para a certificação, 2017